CASO COAF APROXIMA O CLÃ BOLSONARO DE HAVANA

Fabrício Queiroz, o correntista "atípico" que assessorava Flávio Bolsonaro, pesca na companhia de Jair Bolsonaro

Josias de Souza
17/12/2018 04h22

Jair Bolsonaro trocou um dedo prosa com os repórteres neste domingo. Espremido, recusou-se a falar sobre Fabrício Queiroz, o correntista "atípico" que assessorava o primogênito Flávio Bolsonaro. Destravou a língua, entretanto, para reiterar suas críticas à forma como Cuba explorava os médicos que atuavam nesta terra de palmeiras. "Não podemos admitir o trabalho escravo no Brasil com a máscara de trabalho humanitário voltado a pobres", declarou o capitão, sem se dar conta de que o Caso Coaf aproxima a família Bolsonaro de Havana. Fabrício Queiroz movimentou R$ 1,2 milhão numa conta bancária abastecida com depósitos de servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro na Alerj. O brasileiro espera por uma explicação razoável há 12 dias. E nada. A demora potencializa a suspeita de que teria ocorrido a cobrança de pedágio sobre o contracheque dos assessores, prática tão reles quanto usual nos legislativos do país. Mal comparando, é algo muito parecido com o que Cuba fez ao confiscar 70% dos salários dos médicos enviados para prestar serviços no Brasil.

Há duas diferenças: os médicos cubanos tiveram de suar o jaleco. E todo mundo sabe que o confisco previsto no contrato celebrado sob Dilma Rousseff ajudou a financiar a ditadura cubana. No gabinete de Flávio Bolsonaro, o suor era uma contrapartida contornável. E os saques feitos pelo faz-tudo Fabrício Queiroz na boca do caixa, em dinheiro vivo, camuflaram o destino da verba. A exceção foi o repasse de R$ 24 mil à futura primeira-dama Michelle Bolsonaro, feito por meio do velho, bom e rastreável cheque.

Deve-se a Lula a decisão de Bolsonaro de reativar os ataques a Cuba. Em mensagem dirigida aos mais de 8 mil médicos cubanos que retornaram a Havana, o grão-mestre do petismo escreveu: "Eu lamento que o preconceito do novo governo contra os cubanos tenha sido mais importante que a saúde dos brasileiros que moram em comunidades mais distantes e carentes."

Abespinhado, o capitão lamentou que "as informações estejam "chegando erradas na cadeia." Antes de encontrar-se com os repórteres, ele escreveu no Twitter: "Diferente do que diz o corrupto preso Lula sobre o novo governo ser preconceituoso por retirar médicos cubanos do país, foi Cuba que os retirou por recusar-se a pagar salário integral a eles…"
Espera-se que Fabrício Queiroz, um velho amigo de Bolsonaro e seus filhos, reapareça nesta semana para prestar esclarecimentos ao Ministério Público do Rio de Janeiro. Enquanto a movimentação bancária do correntista "atípico" não for acomodada em pratos higienizados, a conversa de Bolsonaro sobre gente que se recusa "a pagar salário integral" a servidores não passa de uma nova variação do velho hábito de atirar contra o próprio pé.

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