AO INVÉS DE ESPIONAR PADRES, GOVERNO DEVERIA AJUDÁ-LOS A COMBATER VIOLÊNCIA

Presidente Jair Bolsonaro, ao lado do general da reserva Augusto Heleno durante visita ao Ministério da Defesa em Brasília Foto: Ernesto Rodrigues/Estadão

Por Leonardo Sakamoto

Ter o governo federal espionando setores da Igreja Católica que atuam na defesa dos trabalhadores e povos na Amazônia sob a justificativa de evitar "interferência em assunto interno do Brasil" não é novidade. Isso ocorreu tanto sob os militares quanto no governo civil pós-redemocratização, portanto, seria claro que aconteceria na gestão anfíbia de Jair Bolsonaro. O que surpreende é a desenvoltura com que isso é escancaradamente assumido.

Importante reportagem de Tânia Monteiro, no jornal O Estado de S.Paulo, desde domingo (10), traz declarações preocupantes do general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, que afirma que o governo está agindo para monitorar e limitar a ação da ala mais progressista do catolicismo. Preocupa-se especialmente com o Sínodo dos Bispos para a Amazônia. O encontro vai discutir a ação da igreja na região e a situação de povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, do desmatamento e das mudanças climáticas.

“Estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí”, disse o ministro-general, que é o principal conselheiro do presidente Bolsonaro. Ele considera que parte do "clero progressista" vai criticar o governo, aproveitando a exposição internacional. Agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) foram escalados para monitorar reuniões preparatórias e o governo irá conversar com autoridades políticas e eclesiásticas para limitar a influência dos debates.

O general criticou a atuação da igreja e de organizações não-governamentais na Amazônia e afirmou que "o trabalho do governo de neutralizar impactos do encontro vai apenas fortalecer a soberania brasileira e impedir que interesses estranhos acabem prevalecendo na Amazônia”, relativizando o potencial de impacto. 

Quando a ditadura militar se aliou a empresas brasileiras e estrangeiras para acelerar o processo de integração da Amazônia à economia global, que teve como "efeito colateral" a morte, a expulsão e a escravização de trabalhadores e povos do campo (num processo que segue ativo até hoje, sem interrupções), quem estava lá para enterrar os mortos, defender os sobreviventes e curar sua feridas eram organizações como a Comissão Pastoral da Terra e o Conselho Indigenista Missionário, ambas ligadas à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Vale lembrar que a primeira denúncia com repercussão internacional por trabalho escravo na região, que veio a público com a ajuda da CPT e contra a vontade da ditadura, teve como alvo a fazenda Vale do Rio Cristalino, no Sul do Pará, que pertencia à Volkswagen.


(Leia a íntegra do texto no post do blog https://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br)

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