BOLSONARO VÊ A HISTÓRIA COMO UMA GRANDE LENDA


Por Josias de Souza

Sob Jair Bolsonaro, não se fazem mais futuros como antigamente. Em visita ao Museu do Holocausto, em Jerusalém, o presidente declarou: "Aquele que esquece o seu passado está condenado a não ter futuro". Certo, muito certo, certíssimo. Mas faltou acrescentar: Aquele que falseia o passado, reescrevendo-o segundo a sua conveniência, condena-se a não ter nem o presente. O capitão trata a história como uma grande lenda.

Bolsonaro trava com a verdade um relacionamento fugaz. Antes de viajar, repetiu que não houve golpe nem ditadura militar no Brasil. Nos instantes que precederam seu retorno, avalizou uma fantasia do ministro Ernesto Araújo. Perguntou-se, numa derradeira entrevista, se o presidente concorda com a tese do seu chanceler de que o nazismo foi um movimento de esquerda. E ele: "Não há dúvida, né? Partido Socialista… Como é que é? Partido Nacional-Socialista da Alemanha."

Bolsonaro acabara de visitar pedaços da história e insistia em apegar-se às lendas. O repórter Caio Quero, da BBC, foi buscar no site do centro de pesquisas do Museu do Holocausto um resumo histórico que traz a presença do DNA de direita na história do nazismo.

O repórter observou que, ao tratar da situação alemã após o Tratado de Versailles, que selou a paz entre as principais potências europeias após a Primeira Guerra, o museu explica em seu site que havia um clima de frustração que, "junto à intransigente resistência e alertas sobre a crescente ameaça do Comunismo, criou solo fértil para o crescimento de grupos radicais de direita na Alemanha, gerando entidades como o Partido Nazista".

A pretexto de construir um governo "sem viés ideológico", Bolsonaro constrói uma lenda com viés patológico. Nela, torturadores como Ustra viram heróis e genocidas como Hitler tornam-se precursores dos fantasmas esquerdistas que torturam o capitão nos seus pesadelos. Não é que Bolsonaro se autocondene a não ter futuro. Na verdade, ele condena o seu período histórico a ser incorporado, num futuro remoto, à Idade da Pedra Lascada.

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