510 mil mortos: delinquência de Bolsonaro e Faria contra crianças e vacinas

Jair Bolsonaro tira máscara de criança no Rio Grande do Norte. Em live, presidente e Fábio Faria produzem desinformação sobre a vacina e fazem pouco caso do povo brasileiro

Reinaldo Azevedo

Colunista do UOL

25/06/2021 07h38

As delinquências política e sanitária de Jair Bolsonaro e de seu candidato a Leporello, o ministro Fabio Fabia (Comunicações), não conhecem mais limites nem barreiras. Ameaçam a saúde das crianças, põem em dúvida a segurança das vacinas, causam desinformação. E o conjunto da obra atua em favor da doença e da morte. Ambos passaram de qualquer limite tolerável.

Por que afirmo isso? Em dois momentos, nesta quinta, em viagem ao Rio Grande do Norte, Bolsonaro concorreu para expor crianças ao perigo. Num dos eventos, uma menina de 10 anos foi escalada para ler um poema em homenagem ao amante das artes que habita o Palácio da Alvorada e desmonta o país no Palácio do Planalto. A garota estava de máscara. O presidente fez um gesto para que ela a retirasse. Foi obedecido.

Em outra circunstância, ainda mais asquerosa, alguém lhe passa uma criança, que deve andar perto dos dois anos. Vestia uma camiseta da Seleção Brasileira e usava máscara. O presidente não teve dúvida: encarregou-se ele mesmo de tirar a proteção do rosto do garoto.

Da agressão ao Estatuto da Criança e do Adolescente à infração de lei federal que ele mesmo sancionou, há de tudo aí, além da vileza no seu estado mais puro. Nas duas circunstâncias, estava acompanhado de Faria, que se tornou hoje a síntese do que há de mais reacionário e abjeto no bolsonarismo. Até porque tem de afetar uma civilidade que não tem. Em 2014, vivia colado a Dilma e Lula porque seu pai, Robinson Faria, precisava do apoio para se eleger governador, o que acabou acontecendo, para a infelicidade dos potiguares.

O que vai acontecer com essa gente? Nada. Hoje, a Procuradoria Geral da República usa máscara nos olhos.

Na sua live do terror de todas as quintas, em companhia, claro!, de Faria -- Bolsonaro inventou uma explicação, que tem a mesma cientificidade da eficácia da hidroxicloroquina no combate ao coronavírus. Citando a mãe e a avó, afirmou que a máscara forçava as crianças a respirar pela boca e que isso não era saudável. E emendou:

"Pergunte para o seu médico se isso é saudável ou não. Procure puxar a máscara e ver se ela está respirando pela boca ou pelo nariz. Se eu estiver errado, semana que vem eu me desculpo aqui, tá?"

É delinquência também, desta feita intelectual e médica. Alguns de seus doutores cloroquinistas devem ter lhe arranjado essa desculpa.

Em circunstâncias normais, o desejável é não usar máscara. Sim, o correto é respirar pelo nariz. Vale para qualquer um, em qualquer idade.

Há precisamente um mês, no dia 25 de maio, a Academia Americana de Pediatria reiterou um comunicado afirmando que as crianças com dois anos ou mais que não estejam imunizadas devem, sim, usar máscaras quando estiverem em locais públicos ou onde haja aglomerações. Isso deve desafiar a sabedoria da avó e da mãe de Bolsonaro... Ou a algum energúmeno que lhe soprou aos ouvidos uma desculpa de última hora.

As máscaras não são recomendáveis para bebês abaixo de dois anos porque há o risco de sufocação. Em qualquer caso, como se trata de crianças, devem estar sempre sob a supervisão de um adulto. O garotinho, também por irresponsabilidade de quem o acompanhava, foi colocado no empurra-empurra da aglomeração. A máscara ali era uma imposição, como era no caso a menina.

CAMPANHA DE DESINFORMAÇÃO

A dupla Bolsonaro-Faria achou que abjeção pouca era bobagem. Os dois participaram depois da "live" do Findomundistão. Bolsonaro -- que, tudo indica, se meteu no pântano no caso da vacina indiana -- resolveu atacar a Coronavac, uma das vacinas que compõem o Plano Nacional de Imunização e que responde por praticamente a metade das doses aplicadas no Brasil.

Bolsonaro pergunta a Faria:

-- Já tomou a vacina?

E o outro responde:

-- Não, vou tomar. Vou tomar... 43 (anos).

E o mais irresponsável dos presidentes que o Brasil já teve então indaga:

-- Qual você vai tomar? A Coronavac? Agora vou te pegar no pé agora...

Leporello sorri amarelo. Bolsonaro insiste;

-- Vai tomar Coronavac?

E Faria:

-- Não, vou...

É interrompido por uma pergunta, seguida de uma gargalhada:

-- Vai o quê?

E então se ouve a resposta do homem que comanda também a Secom, a Secretaria de Comunicação, responsável pelo padrão das informações oficiais que emanam do governo:

-- Vou ver se tem a outra.

E os dois sorriem.

Escarnecem, assim, dos milhões de brasileiros que estão à espera da vacina. Mentem àqueles que neles acreditarem, sugerindo que a Coronavac não é eficaz. Estimulam a que pessoas rejeitem esse imunizante, como se o governo a que ambos pertencem tivesse inundado o país com vacinas de livre escolha.

Assim como as crianças foram expostas a risco — e duvido que Faria colocasse os próprios filhos naquela situação; com crianças pobres, tudo bem —, ameaçam a segurança de todos os brasileiros.

No dia em que o Dom Giovanni do corona e seu Leporello faziam pouco caso do país que governam, contaram-se 509.282 mortos por Covid-19.

Pode não ser agora. Mas é certo que ainda pagarão pelas delinquências política, sanitária e política desta quinta-feira. E de todos os dias.

Que país o senhor tem em mente, doutor Augusto Aras?

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