ANÁLISE: OS PERIGOS DA GUINADA RADICAL NO ITAMARATY


Nelso Ernesto Araújo, futuro ministro das Relações Exteriores, ao fundo, olha para o presidente-eleito Jair Bolsonaro Foto: Jorge William / Agência O Globo

Alinhamento com os EUA de Trump é ruptura com tradição. População mais pobre e vulnerável pode pagar o preço da ideologização da política externa

Guilherme Evelin/Revista Epoca

Ao nomear o embaixador Ernesto Araújo para ministro das Relações Exteriores, o presidente eleito Jair Bolsonaro resolveu pisar fundo e dar uma guinada radical na política externa brasileira. Como chanceler, Ernesto Araújo deve promover uma política de alinhamento do Brasil com os Estados Unidos. Chefe do Departamento de Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos do Itamaraty, Araújo é um fã declarado do governo Donald Trump, que ele considera uma espécie de muralha de defesa de valores ocidentais em declínio por conta de uma doutrina globalista preconizada por elites seculares. Para o embaixador, o Ocidente não sabe, mas está “perdendo o jogo”, diante do avanço de forças como o fundamentalismo islâmico, que cresce, entre outros motivos, por causa do apego das sociedades muçulmanas aos valores religiosos.

Araújo publicou no ano passado um longo ensaio com o título “Trump e o Ocidente” na revista do Instituto de Pesquisa em Relações Internacionais, órgão vinculado ao Itamaraty. No resumo que serve de prólogo para o texto, Araújo deixa logo claro o que pensa. Segundo ele, “Trump propõe uma visão do Ocidente não baseada no capitalismo e na democracia liberal,mas na recuperação do passado simbólico, da história e da cultura das nações ocidentais”. Segundo o diplomata, essa visão é baseada numa longa tradição intelectual que mostra o “nacionalismo como indissociável da essência do Ocidente”. “Em seu centro, está não uma doutrina econômica e política, mas o anseio por Deus, o Deus que age na história”, escreveu Araújo. “O Brasil necessita refletir e definir se faz parte desse Ocidente”. Com citações de “Choque de Civilizações”, de Samuel Huntington, o ensaio parece evocar, várias vezes, “Submissão”, o romance distópico em que Michel Houellebecq imagina uma França governada por um presidente muçulmano.

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